quarta-feira, 31 de março de 2010

Evolução Experimental

Terminei de ler o fantástico livro do Richard Dawkins, O Maior Espetáculo da Terra, onde o autor se propõe a mostrar ao público leigo as evidências científicas para a Teoria da Evolução (TE) (ou, como se denomina hoje, a Teoria Sintética da Evolução).

Dentre as inúmeras evidências, magistralmente mostradas no livro, uma em particular me chamou a atenção pela fantástica demonstração do funcionamento do Método Científico.

Esta se trata do experimento de Richard Lenski (veja o site sobre o experimento aqui). Para entendermos bem do que se trata tal experimento vamos nos lembrar que um dos "argumentos" utilizados pelas pessoas que negam a TE é fato de nunca podermos observar, de fato, o processo evolucionário acontecendo.

Tal argumentação é facilmente rebatida se lembrarmos que qualquer processo evolucionário não acontece da noite para o dia, mas sim ao longo de milhões, ou dezenas de milhões de anos. Portanto seria impossível observamos o surgimento de uma nova espécie no tempo de vida de um ser humano, por exemplo.

Mas e se pudéssemos simular processos evolucionários em Laboratório? É isso o que Experimento de Lenski (Experimental Evolution) faz, de fato. Ele utiliza a bactéria E.Coli para investigar o processo evolucionário ao longo de várias gerações.

Notem que eu digo "ele utiliza" pois o Experimento ainda está em andamento!

Mas como é feito de fato tal experimento? Lembremos que a E.Coli é uma bactéria muito comum, tão comum que você, caro leitor, abriga, neste exato momento, cerca de 1 bilhão delas no seu intestino grosso.

A E.Coli nos é inofensiva e, por vezes, até benéfica. No entanto, ocasionalmente mutações genéticas criam algumas cepas que nos causam problemas sérios.

Para a Evolução as mutações são eventos de sucesso raro, no sentido de que qualquer mutação genética é, em quase totalidade das ocorrências, um evento maléfico para o organismo vivo e é descartado pela processo de Seleção Natural. No entanto, apesar de que somente em raras vezes as mutações acabem por beneficiar o organismo e ser "selecionado" pela Natureza, se a população de tais organismos for muito grande, é possível observarmos tais mutações bem sucedidas com maior frequência.

A E.Coli é extremamente abundante no mundo e foi o "animal" escolhido por Lenski para observar algumas características do processo evolucionário através de várias e várias gerações. A conta, feita no livro do Dawkins, é que, pela vastidão colossal do número de E.Coli's disponíveis, cada gene do genoma da bactéria sofre mutação, em alguma parte do mundo, em todos os dias.

Lenski e seus colaboradores estão explorando essa oportunidade de modo controlado, em laboratório, para analisar como as mutações genéticas atuam no processo da evolução. Só para ficar claro ao leitor o procedimento adotado por Lenski, cito uma parte do texto do Dawkins:

As E.Coli se reproduzem assexuadamente - por divisão celular simples - o que torna fácil clonar uma população enorme de indivíduos geneticamente idênticos em pouco tempo. Em 1988, Lenski usou uma população dese tipo e infectou doze frascos idênticos, todos contendo o mesmo caldo nutritivo, incluindo glicose como fonte vital de alimento. Os doze frascos, cada qual com sua população fundadora de bactérias, foram então postos em uma "incubadora de agitação", onde foram mantidos devidamente aquecidos e eram agitados afim de manter as bactérias bem distribuídas por todo o líquido. Esses doze frascos fundaram doze linhagens de evolução que foram destinadas manterem-se separadas uma das outras por duas décadas, no mínimo.

Todos os detalhes a respeito do experimento pode ser encontrado no site do grupo do Richard Lenski. A moral da história aqui é que o experimento mostra sem sombra de dúvida que o processo evolucionário acontece nos moldes descritos por Charles Darwin, através do processo de adaptação ao meio e de Seleção Natural.

Este é um exemplo claro do Método Científico em andamento. São evidências experimentais incontestáveis em favor da Teoria da Evolução. Não se tratando de discussões de "analogias" ou de discussões de natureza filosófica. O que acontece aqui é um processo simples: o Cientista faz uma pergunta à Natureza e esta o responde de forma simples e direta.

Fica então a minha dica aos leitores sobre a leitura desse fantástico livro do Dawkins e uma pesquisada no Site do Richard Lenski para aprender como se faz Ciência de forma séria e honesta.

Aqui vai mais uma dica: um artigo (em inglês) do próprio Richard Lenski, intitulado Evolution: Fact and Theory (Evolução: Teoria e Fato) onde o autor fala sobre a Teoria da Evolução e suas evidências.

3 comentários:

  1. Sérgio, ótimo você falar do Richard Dawkins. Estou louco para ler esse livro, estou esperando baixar um pouco o preço, hehe.

    Ele é um cara que merece nosso respeito, pelo bem que esta fazendo a humanidade ao promover o pensamento científico e o ceticismo como fizeram Carl Sagan, Daniel Dennet, Sam Harris e outros brilhantes cientistas. Simplesmente fantástico o que esses caras fizeram e estão fazendo.

    Tenho uma dúvida: acho que você já deve ter lido a grande história da evolução do Dawkins: você sabe porque esse livro só existe em português? No site do Dawkins não encontro o livro, nem na amazon, não entendi porque não achei.

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  2. Não faço a mínima idéia, André.

    Comprei e li o livro em Português mesmo.

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  3. Acabei de descobrir o problema - a tradução.
    The Ancestor’s Tale: A Pilgrimage to the Dawn of Life é o nome do livro, que foi lançado em 2004.
    Como ele só foi lançado no Brasil em 2009 e com esse nome, achei estranho.

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