terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sobre Beagles e Método Científico

Toda polêmica causada por esse recente caso dos Beagles, "sequestrados" do Instituto Royal pelos ditos "ativistas", me fizeram refletir sobre o gigantesco desconhecimento do que é Ciência e de como funciona a Ciência por parte de nossa sociedade. Não me reporto aqui ao fato em si mas sim aos comentários vindos de pessoas leigas, que tive a curiosidade de ler em grandes proporções.

Em assuntos de biologia eu também sou leigo mas, pela minha formação, sei o que é Ciência e como funciona o método científico. Não sou ingênuo para descartar os interesses financeiros que estão em jogo na questão. Sei claramente do poder da indústria farmacêutica no mundo.

No entanto, para começo de conversa, citando o caso em si, nenhuma prova de maus tratos foi mostrada contra o Instituto. Vi sim provas de falta de bom senso de deputados e pseudo-atrizes, desesperados por um pouco de atenção. Quero deixar claro que não estou defendendo o Instituto, somente considerando que o "ônus da prova cabe a quem acusa", e eu não vi prova nenhuma.

Acredito que o ativismo sério é de extrema importância em tais assuntos porque sei que, se deixarem, abusos irão acontecer sim. Portanto a atitude tomada por estes ativistas prestou um grande desserviço à causa. Agora o Instituto Royal vai poder posar de inocente e, caso maus tratos tenham sido cometidos pelo tal Instituto, as provas foram devidamente eliminadas.

Mas estou fugindo do assunto que me interessa que é a Ciência. Li repetidas opiniões contra a pesquisa científica com animais e fiquei "petrificado" com a ingenuidade e/ou ignorância demonstrada. Algumas opiniões:

- Já temos tecnologia suficiente para não precisarmos utilizar animais em pesquisas científicas.

Pergunta: quais seriam estas tecnologias? Sim, elas podem realmente existir mas quem opinou assim não tinha  menor ideia de um mero exemplo. Lendo a respeito a opinião de Profissionais da área é de que, para certos tipos de pesquisas, a utilização de animais é fundamental.

- É crueldade utilizar animais em pesquisas. Por que, quem é a favor, não se oferece como cobaia? 

Partindo do pressuposto de que estamos tratando com Institutos sérios, pode-se afirmar com certeza que nenhum tipo de crueldade é praticado contra animais. A pesquisa é altamente regulada e fiscalizada pelo governo justamente pelo fato de ser um assunto altamente polêmico (Lei Arouca). Aliás tenho certeza que tais animais são muito melhor tratados nestes Institutos do que nas casas de vários defensores de animais (vai dizer que você nunca deu um ossinho pro bilu comer debaixo da mesa?).

- Por que não colocam presidiários como cobaias?

Porque existem animais, que são mais fáceis de se lidar! Óbvio que a sugestão aí leva à um dilema ético de proporções absurdas, além do fato de que a pesquisa tem muito mais efeito sobre um espaço amostral maior. O que eu quero dizer? 3 mil ratos dão melhores informações do que 10 seres humanos.

- As pesquisas com animais foram banidas na Europa!

Sim, foram banidas para o teste com cosméticos, fato que tem meu total apoio. Testes de drogas contra o câncer e outras doenças importantes ainda são feitos, em Países Europeus, com animais. Um exemplo que não é da Europa, é o do Miguel Nicolelis, que faz pesquisas com neurociência nos EUA. Ele utiliza um monte de macaquinhos, tá bom vai, "primatas não humanos" para simulações (veja aqui) (veja aqui também).Você acha que ele, em algum momento, não teve que abrir o crânio de um dos seus "primatas não humanos"?

Por incrível que pareça se o leitor tiver paciência e ver os tipos de comentários verá que a esmagadora maioria deles será bem parecido com estes que exemplifiquei acima. O que acontece, nestes casos, é a total falta de conhecimento de quem opina. Novamente: TODOS SOMOS CONTRA MAUS TRATOS A ANIMAIS. No entanto a pesquisa tem que continuar pelo simples fato de a demanda por drogas contra os mais variados males estar sempre em alta. A população está crescendo, assim como a longevidade. Estamos morrendo bem velhinhos... e velhinhos precisam de remédios. Todos precisam de remédios, esse é o fato. Não é por acaso que a Indústria Farmacêutica faz tanto sucesso e gasta tanto dinheiro em pesquisa. Tenho certeza também que você se sente aliviado por saber que em qualquer esquina poderá encontrar um remedinho para a sua ressaca matinal de domingo.

Já li muitos comentários em notícias sobre algum triunfo científico do tipo: pra quê serve isso? Ao invés de se gastar dinheiro pra achar essa partícula por que não investem na cura da AIDS? Ué, mas precisamos testar as drogas antes de se colocar no mercado, senão pode acontecer o que aconteceu com a talidomida. Vocês não sabem? Vou contar.

Antes, quem quiser saber o que é talidomida informe-se aqui.

O fato é que tal droga, se ingerida por grávidas, pode causar (causa na maioria das vezes) má formação do feto. As crianças podem nascer sem um dos órgãos, sem pernas, braços, etc. Antes de ser lançada no mercado a droga foi exaustivamente testada em ratos e o resultado foi um sucesso. Mas quando foi lançada no mercado causou os efeitos acima. Muitos pesquisadores queriam mais testes antes do lançamento, mas como é o dinheiro que manda... Com o tempo os testes voltaram e foram feitos em animais de maior porte como... cachorros, e nesse caso foi observado o efeito de má formação de fetos, como aconteceu com um número muito grande de humanos.

Esse caso exemplifica bem o que acontece nessa área de pesquisa. Então, quando drogas que serão utilizadas para o tratamento de doenças importantes, vão ser testadas a utilização de animais será de fundamental importância. Ratos, depois cães, etc, etc... Por fim testa-se em humanos e depois lança-se o produto, no caso de sucesso dos testes.

Seria perfeito se não fossem necessários os testes em animais, no entanto não vivemos em um mundo perfeito, queira você ou não.

Vou deixar um vídeo de referência aqui de um profissional que trabalha exatamente nessa área: Vídeo do Yuri.