quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Os "Videntes" e suas "previsões"

Aqui vai um exemplo da estupidez humana.

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Não tem jeito. Vai começar a temporada de previsões de todos os tipos para 2011.

E não tem como fugir: na TV, no rádio, no jornal e na internet, tem sempre alguém pronto pra lhe dizer o que será o amanhã.

No começo de 2010, o Globoesporte.com publicou as previsões esportivas dadas por uma cartomante e um ‘mago’ espírita.

Instigado pela curiosidade, fui lá nos arquivos conferir. E surpresa:

Eles não foram nada bem.

O primeiro desastre nas previsões veio na Copa do Mundo: o ‘mago’ Ubirajara Pinheiro e a cartomante Cinara Mattos cravaram que o Brasil seria finalista (foi eliminado nas quartas-de-final).

Ubirajra previu 90% de chance de título verde-amarelo, apontando Itália ou Alemanha como a outra finalista. Já Cinara garantiu que Brasil e França fariam a decisão, prevendo grande campanha da seleção francesa, que na verdade fez um fiasco histórico, saindo na primeira fase. Sobre a campeã Espanha, o ‘mago’ afirmou que nem chegaria entre as quatro. Cinara não falou em título, mas pelo menos previu que poderia “chegar longe”.

Nas previsões para o futebol carioca, outro desastre. O título brasileiro do Fluminense não apareceu nas cartas ou nos búzios, sendo que estes ainda disseram ao ‘mago’ Ubirajara que o Flu nada conquistaria em 2010. Apesar do ano catastrófico do Flamengo, ele tinha previsto que o rubro-negro conquistaria o estadual, outra vez o Brasileiro e com muita ênfase, garantiu a conquista da Libertadores. Para completar, falou em ano “muito carente” e negativo para o Botafogo, que acabou campeão carioca e bem no Brasileirão. A cartomante Cinara também errou ao apostar que o Fla conquistaria o estadual, além de prever que o time se sairia muito bem na Libertadores e no Brasileiro.

Em São Paulo, o ‘mago’ e a cartomante também não foram bem. Ubirajara viu nos búzios a certeza do título paulista para o Corinthians, além do Palmeiras conquistando a Copa do Brasil. Competição onde, segundo as cartas de Cinara, nenhum time de São Paulo teria chances. Pra completar, ambos apontaram que o Santos passaria 2010 em jejum. O Peixe acabou sendo o time-sensação do ano, faturando o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil.

Mais erros nos palpites para os times gaúchos: a cartomante, pelo menos, previu o título estadual e a vaga na Libertadores para o Grêmio. Mas tanto ela quanto o ‘mago’, apostaram em ano ruim para o Inter, sem conquistas, o que acabou desmentido pela conquista da Libertadores.

Na Fórmula-1, mais um show de derrapadas: as cartas de Cinara afirmaram que um brasileiro seria campeão da temporada, mas todos passaram longe disso. Os búzios de Ubirajara disseram que o Brasil não tinha chances, mas que “seria difícil tirar a conquista de Michael Schumacher”. O alemão também nem chegou perto.

Por fim, os ‘videntes’ também não tiveram desempenho dos melhores nas quadras e piscinas: Cinara e Ubirajara apostaram alto na participação do basquete masculino no Campeonato Mundial. Ele apostou em medalha, enquanto ela disse que o segundo lugar era “praticamente nosso”. Os brasileiros ficaram em nono.

No feminino, não previram o mico que foi a eliminação antes da fase mata-mata e o nono lugar geral, mas pelo menos também não falaram em boa colocação.

No vòlei das mulheres, outro erro: os dois ‘videntes’ previram título mundial garantido, mas elas acabaram com o vice.

No masculino, finalmente ambos acertaram, ao prever mais um título mundial da seleção de Bernardinho.

E em meio à declarações otimistas sobre César Cielo, faltou profetizar a participação decepcionante no Pan-Pacífico, nos EUA. As boas previsões para ele só se confirmaram no fim do ano, quando o campeão olímpico ganhou nos 50 e 100m no mundial de piscina curta, em Dubai.

E em 2011, como será o amanhã?!

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Texto do Blog do Ilan, veja aqui.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Efeito Placebo




Quando um medicamento é receitado ou administrado a um paciente, ele pode ter vários efeitos. Alguns deles dependem diretamente do medicamento, ou seja, de sua ação farmacológica. Existe, porém, um outro efeito, que não está vinculado à farmacologia do medicamento, e que também pode aparecer quando se administra uma substância farmacologicamente inativa. É o que denominamos "efeito placebo". É um dos fenômenos mais comuns observados na medicina, mas também um dos mais misteriosos.

O efeito placebo é poderoso. Em um estudo realizado na Universidade de Harvard, testou-se sua eficácia em uma ampla gama de distúrbios, incluindo dor, hipertensão arterial e asma. O resultado foi impressionante: cerca de 30 a 40% dos pacientes obtiveram alívio pelo uso de placebo!

Além disso, ele não se limita a medicamentos, mas pode aparecer em qualquer procedimento médico. Em uma pesquisa sobre o valor da cirurgia de ligação de uma artéria no tórax na angina de peito (dor provocada por isquemia cardíaca crônica), o placebo consistia apenas em anestesiar o paciente e cortar a pele. Pois bem: os pacientes operados ficticiamente tiveram 80% de melhora. Os que foram operados de verdade tiveram apenas 40%. Em outras palavras: o placebo funcionou melhor que a cirurgia.

O que é o efeito placebo? Como ele pode ser explicado?

Neste artigo vamos examinar as bases neurobiológicas do efeito placebo, de acordo com as hipóteses mais recentes. Estudando e compreendendo melhor o efeito placebo e seu lugar na medicina tem grande importância para o próprio ato terapêutico, além de ter grandes repercussões éticas na prática e na pesquisa médica. Vamos concentrar nossas explicações sobre um tipo específico de placebo, que é o agente farmacológico (medicamento). Mas os princípios discutidos podem ser generalizados para qualquer tipo de placebo.

O que é o efeito placebo?

A palavra placebo deriva do latim, do verbo "placere", que significa "agradar". Uma boa definição é a seguinte:

"Placebo é qualquer tratamento que não tem ação específica nos sintomas ou doenças do paciente, mas que, de qualquer forma, pode causar um efeito no paciente." Note bem a diferença: placebo é o tratamento inócuo. Efeito placebo é quando se obtém um resultado a partir da administração de um placebo. O conhecimento sobre o efeito placebo ampliou-se muito com a necessidade da medicina realizar ensaios clínicos controlados, que são uma metodologia científica muito utilizada para determinar a eficácia terapêutica de novos fármacos.

Nestes ensaios administra-se obrigatoriamente um placebo a um grupo controle de pacientes, e depois se compara os resultados com os obtidos no grupo que recebe a medicação ativa, cuja ação se pretende demonstrar. Quanto maior a diferença nos resultados entre o segundo e o primeiro grupos, maior a eficácia farmacológica da substância em estudo.

Os médicos logo notaram nestes estudos que os placebos tinham muito mais efeitos sobre a doença estudada do que podia se esperar. Em alguns casos, os efeitos colaterais (indesejados) dos placebos chegavam a ultrapassar os do medicamento ativo... Em conseqüência, houve um aumento grande nas pesquisas científicas com a finalidade de esclarecer melhor o que é esse efeito, porque ocorre, qual a sua base fisiológica, etc.

Como o efeito placebo pode ser real, ou seja, provocar mudanças benéficas no paciente, ele pode ser útil na prática clínica. Isso é inclusive permitido pelo código de ética médica.

Tipos de Placebos

Os placebos são classificados em dois tipos: inertes e ativos.

Placebos inertes - são aqueles realmente desprovidos de qualquer ação farmacológica, cirúrgica, etc.

Placebos ativos - são os que têm ação própria, embora, às vezes, não específica para a doença para a qual estão sendo administrados.

Diz-se que os placebos têm efeito positivo quando o paciente relata alguma melhora e efeito negativoquando eles relatam que houve piora ou surgimento de algum efeito colateral desagradável (neste caso o placebo é chamado de nocebo, palavra que deriva do latim nocere, ou provocar dano).

Uma conclusão interessante é a seguinte: toda medicação administrada, além do seu efeito real farmacológico, tem também um efeito placebo, e eles dificilmente podem ser separados um do outro.

O que causa o efeito placebo?

Surge então a pergunta: se o efeito placebo não deriva de uma ação provocada no organismo do paciente, de onde vem ele? A ciência médica ainda não explicou completamente qual a causa (ou causas) do efeito placebo. Mas, ao que parece, ele resultaria da espera do efeito por parte do paciente.

Como se explica isso? Existem diversas teorias, decorrentes de diversas escolas da psicologia. A que adotaremos aqui, e que parece ser uma das mais prováveis, é a do reflexo condicionado. Você deve se lembrar dele: foi descoberto por um fisiologista russo chamado Ivan Pavlov no final do século passado, que ganhou o primeiro prêmio Nobel de Medicina, em 1902. Ele é conhecido popularmente pelo famoso experimento do cão que salivava ao ouvir um sino (veja aqui uma recapitulação de como eram feitos esses experimentos e o que se aprendeu com eles).

A idéia geral é que o efeito placebo surge como um reflexo condicionado involuntário por parte do organismo do paciente. A seguir veremos como isso acontece.

Reflexos Condicionados

Segundo a teoria de Pavlov, podemos compreender o funcionamento do sistema nervoso como dependente de reflexos, ou seja, respostas a estímulos provenientes do meio externo ou do interno. Um estimulo sensorial, venha de dentro ou de fora do organismo, atinge um receptor e provoca modificação das condições orgânicas e, em conseqüência, uma resposta que pode ser motora, secretora ou vegetativa.

Existem dois tipos de reflexos: condicionados e incondicionados.

Os reflexos incondicionados são aqueles com os quais os animais nascem, adquiridos ao longo da evolução de sua espécie, ou filogênese. Por exemplo, se colocarmos comida na boca de um cão, ele começa a salivar. Isso está determinado dentro do seu próprio sistema nervoso.

Os reflexos condicionados são aqueles que os animais adquirem durante suas vidas, ou ontogênese. Eles são um dos tipos de aprendizado de que o sistema nervoso é capaz. À medida que determinados estímulos ambientais vão agindo sobre eles, formam respostas condicionadas a esses estímulos. Logicamente, para que essas respostas condicionadas surjam, elas têm que se basear em respostas incondicionadas. No experimento clássico de Pavlov, tocar o sino não causava nenhuma salivação no cão, mas depois dele apresentar o sino repetidamente em conjunto com o estímulo incondicionado (a comida), o cão começou a salivar em resposta ao sino, apenas.

Pavlov definiu o reflexo condicionado como:

"uma conexão nervosa temporária entre um dos inumeráveis fatores do ambiente e uma atividade bem determinada do organismo."
Ou seja, o reflexo é uma conexão temporária entre um estímulo qualquer do meio ambiente e um reflexo incondicionado do organismo, que passará, assim, a ser condicionado, despertado por aquele estímulo ambiental, até então previamente indiferente.

Modificando a Reação à Medicamentos Pelo Condicionamento

Este é um tópico importante para podermos entender o efeito placebo. Vamos entendê-lo através de um experimento simples:



Após fazer soar um estímulo sonoro, aplica-se, em um cão, uma injeção de acetilcolina. Em resposta à acetilcolina o cão tem hipotensão (queda da pressão arterial). Se, depois de diversas combinações do som com a injeção, substituirmos a acetilcolina por adrenalina, o cão continuará a ter hipotensão. Deveria ter hipertensão (aumento da pressão arterial), portanto o condicionamento mudou completamente a resposta ao segundo agente. A ação farmacológica da adrenalina foi anulada. Seria de se esperar que o cão, ao recebê-la, tivesse aumento da pressão arterial; mas como está recebendo aquela injeção temporalmente associada ao estímulo sonoro, que para ele é sinal de hipotensão, sua pressão continua a baixar. O organismo do cão ignora o efeito farmacológico da adrenalina e obedece ao sinal de hipotensão, registrado no sistema nervoso central.

Fato muito importante é que diversos estímulos ambientais podem conjugar-se entre si, formando uma verdadeira cadeia, e qualquer desses estímulos pode agir como sinal e por em marcha o reflexo condicionado. Outros estímulos do ambiente podem apresentar o mesmo efeito, como, por exemplo, a entrada na sala onde a experiência se realiza, a visão do experimentador, a audição de sua voz (mesmo fora da sala), etc

Reflexos e Linguagem em Seres Humanos

E no ser humano, o que aconteceria? A mesma coisa. Existem diversas experiências mostrando que o homem tem suas funções tão condicionáveis quanto as dos animais. Por exemplo: doentes com dor intensa, provocada por uma doença chamada aracnoidite, que recebiam injeções endovenosas de novocaína (um anestésico), tinham alívio da dor e dormiam. Nesses mesmos doentes, depois de algum tempo, com a troca da injeção de novocaína por soro fisiológico (uma solução fraquinha de sal), continuavam a ocorrer alívio da dor e sono.

No homem existe ainda algo importante a ser considerado. Segundo Pavlov, nos animais existe apenas o que ele chamava de primeiro sistema de sinais da realidade. Trata-se dos sistemas do cérebro que recebem e analisam os estímulos que vêm de fora e de dentro do organismo (por exemplo, sons, luzes, nível de CO2 no sangue, movimentos intestinais, etc.).

No ser humano, além desse primeiro sistema de sinais, existe um segundo sistema, o da linguagem, que aumenta as possibilidades de condicionamento. Para o ser humano, a palavra pode ser um estímulo tão real, tão eficaz, tão capaz de nos mobilizar como qualquer estímulo concreto, e, às vezes, até mais. Além disso, o fato da palavra ser simbólica, ser uma abstração, permite que o estímulo condicionado seja generalizável.

Um exemplo?

Se condicionarmos um homem dando-lhe choques na mão após ouvir a palavra campainha, haverá reação de defesa com retirada da mão. Depois de algum tempo, ao ouvir a palavra campainha, em seu idioma natal ou em algum outro que ele entenda, assim como ao ver uma campainha, real ou em foto o homem terá a mesma reação de retirada da mão. Por quê? Porque o homem não foi condicionado a um conjunto de sons, como foi o caso do cão, e sim a uma abstração, a idéia da campainha.

Outro exemplo de experiência de condicionamento em seres humanos: dá-se choque na mão de um sujeito após ele ouvir a palavra caminho, provocando retirada da sua mão. Depois de algum tempo, ouvindo a palavra caminho, esta pessoa retira a mão, fazendo o mesmo, também, ao ouvir sinônimos: estrada, via, rota, etc.

O Efeito Placebo como Condicionamento

Chegamos, então, a uma explicação fisiológica bastante convincente sobre o efeito placebo: trata-se de um efeito orgânico causado no paciente pelo condicionamento pavloviano ao nível de estímulos abstratos e simbólicos.

Segundo essa explicação, o que conta é a realidade presente no cérebro, não a realidade farmacológica. A expectativa do sistema nervoso em relação aos efeitos de uma droga pode anular, reverter ou ampliar as reações farmacológicas desta droga. Pode também fazer com que substâncias inertes provoquem efeitos que delas não dependem.

Poderíamos então definir efeito placebo como o resultado terapeuticamente positivo (ou negativo) de expectativas implantadas no sistema nervoso dos pacientes por condicionamento decorrente do uso anterior de medicação, contatos com médicos e informações obtidas por leituras e comentários de outras pessoas.

Conclusões

Existem duas maneiras de encarar o efeito placebo:

1) Para quem faz pesquisa clinica, estuda um medicamento novo e quer determinar seu real valor, o efeito placebo é um estorvo: constitui um conjunto de efeitos não medicamentosos a serem eliminados, na medida do possível, com auxílio de técnicas de pesquisa;

2) Na prática médica, o efeito placebo pode ser útil, pois esses efeitos não medicamentosos podem ser benéficos ao paciente. A ação curativa de agentes terapêuticos específicos, farmacologicamente ativos, pode ser reforçada, por efeito placebo conseqüente às expectativas de cura, despertadas nos pacientes dentro do contexto de uma boa relação médico-paciente. Contrariamente, se não houver boa relação médico/paciente, pode ocorrer um efeito placebo negativo de tal monta que prejudique a adesão ao tratamento. O paciente simplesmente ignora a receita ou toma os medicamentos de maneira completamente diferente da que foi prescrita. Mesmo se chegar a tomá-los da maneira prescrita, vai exagerar todos os possíveis efeitos negativos e ignorar os efeitos positivos do tratamento.

Para terminar lembramos que alguns autores consideram que o efeito placebo tem o seu lado negro, pois as curas a ele devidas favorecem a perpetuação do uso de medicamentos e procedimentos terapêuticos ineficazes e irracionais, como os que acontecem na chamada "medicina alternativa".


Fonte:Revista Eletrônica Cérebro e Mente.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Ciência é Uma Religião?




O Humanista do Ano de 1996 fez esta pergunta em palestra proferida ao receber prêmio da Associação Humanista Americana.

Está na moda ter uma raiva apocalíptica da ameaça que representa à humanidade o vírus da AIDS, o mal da "vaca louca" e muitos outros, mas penso que devemos nos preocupar com a fé, um dos grandes males do mundo, comparável ao vírus da varíola, mas mais difícil de ser erradicado.

A fé, sendo uma crença não baseada em provas, é o vício principal de qualquer religião. Quem, ao olhar a Irlanda do Norte ou o Oriente Médio, pode dizer enfaticamente que o vírus cerebral da fé não seja extremamente perigoso? Uma das estórias contadas aos jovens muçulmanos que são homens-bomba suicidas é que o martírio é a maneira mais rápida de se chegar ao paraíso ― e não apenas ao paraíso, mas a um lugar especial, onde serão recompensados com o prêmio de 72 noivas virgens.

Ocorre-me que nossa melhor esperança pode estar associada a uma espécie de "controle de armas espirituais": enviar teólogos especialmente treinados para diminuir progressivamente esse número de virgens.

Levando-se em conta o perigo representado pela fé, e considerando as realizações da razão e da observação na atividade chamada ciência, é irônico que, em minhas palestras públicas, sempre haja alguém que diga: "É evidente que sua ciência é apenas uma religião como a nossa. No fundo, a ciência não passa de fé."

Bem, ciência não é religião e não toca a fé porque, apesar de ter muitas das virtudes da religião, não possui nenhum de seus vícios. A ciência se baseia em evidências verificáveis. A fé religiosa não somente falha em provas, mas também apregoa com orgulho e alegria sua independência de provas. Que outra razão os cristãos teriam para fazer essa crítica raivosa à dúvida de Tomé? Os outros apóstolos são exemplos de virtude para nós porque a fé lhes era suficiente. O cético Tomé, por outro lado, exigia a evidência. Talvez ele devesse ser considerado o santo patrono dos cientistas.

Uma razão pela qual eu sou confrontado com a idéia de que a ciência é no fundo uma religião é porque eu acredito de fato na evolução, e acredito com uma convicção apaixonada. Para alguns, isto pode parecer superficialmente com a fé, mas a evidência que me faz acreditar na evolução não somente é poderosamente forte, como também encontra-se à disposição de qualquer um que queira se debruçar sobre o tema para estudá-lo. Qualquer pessoa pode estudar as mesmas provas que eu e, presumivelmente, chegar à mesma conclusão. Mas, se você tem uma crença que se baseia somente na fé, eu não posso examinar suas razões. Você pode se esconder atrás de seu muro particular de fé, onde não posso alcançá-lo.

É claro que, na prática, os cientistas individuais às vezes recaem no vício da fé, e uns poucos talvez acreditem de modo tão simplório em sua teoria favorita que ocasionalmente cheguem a falsificar uma prova. Todavia, o fato de que isto às vezes aconteça não altera o princípio de que o fazem com vergonha, e não com orgulho. O método da ciência é tão bem arquitetado que geralmente traz à tona mais cedo ou mais tarde qualquer tentativa de falsificação da evidência.

A ciência é na verdade uma das disciplinas mais morais e honestas que existem, porque entraria em colapso inteiramente se não fosse por uma escrupulosa aderência à honestidade na apresentação da evidência. Como James Randi apontou, esta é a razão porque os cientistas são tão freqüentemente enganados por paranormais cheios de truques e porque o papel de desmascarar é melhor representado pelos prestidigitadores profissionais. Os cientistas simplesmente não antecipam a desonestidade deliberada.

Há outras profissões (não é preciso mencionar os advogados especificamente) em que a falsificação das provas, ou pelo menos a sua adulteração, é precisamente o que as pessoas são pagas para fazer e que os torna melhores na profissão.

A ciência está livre do principal vício da religião, que é a fé. Mas, como assinalei, ela possui algumas das virtudes da Religião. A Religião pode desejar conferir a seus seguidores diversos benefícios, entre eles a explicação, a consolação e o encantamento. A ciência pode oferecer o mesmo.

Os seres humanos têm um grande apetite por explicações. Esta pode ser uma das principais razões porque a religião se difundiu tão universalmente, uma vez que pretende dar explicações. Nós somos dotados de uma consciência individual em um universo misterioso e desejamos entendê-lo. A maior parte dos religiosos oferece uma cosmologia, uma biologia, uma teoria da vida e uma teoria das origens, além de significados para a existência. Assim fazendo, eles demonstram que a religião é, em certo sentido, ciência; mas não passa de má ciência. O argumento não considera que religião e ciência operam em dimensões separadas e dizem respeito a tipos de perguntas bastante distintos. Historicamente, as Religiões sempre tentaram responder a perguntas que pertencem propriamente à ciência, mas não deveriam ter permissão para se retirarem do terreno em que elas tradicionalmente têm tentado brigar. Elas oferecem tanto uma cosmologia quanto uma biologia; todavia, ambas são falsas.

O consolo é mais difícil para a ciência oferecer. Diferentemente da religião, a ciência não pode oferecer ao carente um encontro memorável com seus amados numa vida futura. Aqueles que foram maltratados nesta vida não podem, de um ponto de vista científico, antecipar uma doce vingança para seus atormentadores em uma vida após a morte. Poder-se-ia argumentar que, se a idéia de uma vida posterior é uma ilusão (como acredito que seja), a consolação que oferece é vazia. Mas não é necessariamente assim; uma falsa crença pode ser tão reconfortante quanto uma verdadeira, desde que o crente jamais descubra sua falsidade. Mas se o consolo for tão barato assim, a ciência é capaz de oferecer, em contrapartida, outros paliativos baratos, tais como analgésicos, cujo conforto pode ou não ser ilusório, mas que funciona bem.

O encantamento, todavia, é o terreno em que a ciência realmente sente-se à vontade. Todos os grandes religiosos abrigam o temor, a empolgação diante da maravilha e beleza da criação. É exatamente esta sensação de estremecimento, de temor reverente ― de quase adoração -, este sentimento de admiração arrebatadora, o que a ciência moderna pode oferecer. E isto vai muito além dos sonhos mais selvagens dos santos e místicos. O fato de que o sobrenatural não tenha lugar em nossas explicações, em nossa compreensão do universo e da vida, não diminui o temor. Na verdade, acontece o contrário. O mero vislumbre através de um microscópio do cérebro de uma formiga, ou através de um telescópio, de uma galáxia remota de um bilhão de mundos, é o suficiente para substituir os salmos de louvor tolos e paroquiais.

Agora, quando me dizem que a ciência ou alguma parte específica dela, como a teoria da evolução, é apenas uma religião como qualquer outra, eu geralmente nego isto com indignação. Mas começo a me perguntar se talvez esta não seja uma tática errada.

Talvez a tática certa seja aceitar o desafio com gratidão e exigir que as aulas de ciência tenham a mesma duração que as aulas de educação religiosa. Quanto mais eu penso nisso, mais eu percebo que deveríamos investir seriamente nesta idéia. Quero, então, falar um pouco sobre a educação religiosa e o lugar que a ciência poderia ocupar nela.

Eu lamento profundamente o modo como as crianças são educadas. Não estou familiarizado inteiramente com o modo como as coisas acontecem nos Estados Unidos, assim o que digo pode ter mais relevância no Reino Unido, onde há instrução religiosa para todas as crianças como imposição do Estado e obrigação legal. Isto é inconstitucional nos Estados Unidos, mas presumo que as crianças recebam de qualquer forma uma instrução religiosa na religião particular que seus pais julguem apropriada.

Isto me leva à observação sobre o abuso mental de crianças. Em uma edição de 1995 do Independent, um dos principais jornais londrinos, havia uma fotografia de uma cena relativamente doce e tocante. Era a época de Natal, e a foto mostrava três crianças vestidas como três homens sábios, encenando uma peça sobre a natividade. A estória associada à foto representava uma criança Muçulmana, outra Hindu e outra, Cristã. O ponto supostamente doce e tocante da estória é que todas elas participavam da peça sobre a Natividade.

O que não é doce e nem tocante é que estas crianças tinham todas quatro anos de idade. Como se pode dizer que uma criança de quatro anos seja Muçulmana, ou Cristã, ou Hindu, ou Judia? É possível falar de um economista de quatro anos de idade? O que você diria sobre um neo-isolacionista de quatro anos, ou um liberal Republicano de quatro anos? Há opiniões sobre o cosmos e o mundo que as crianças, uma vez crescidas, presumivelmente estarão em condição de avaliar por si mesmas. A Religião é um domínio em nossa cultura em que aceita-se prontamente, sem questionamento ― sem nem mesmo se aperceber do quanto isto é bizarro ― que pais tenham uma palavra total e absoluta sobre o que seus filhos serão, como seus filhos vão ser formados, que opiniões seus filhos terão sobre o cosmos, sobre a vida, sobre a existência. Você compreende o que quero dizer quando me refiro a abuso mental de crianças?

Considerando agora o que se espera que a educação religiosa seja capaz de oferecer, um de seus objetivos poderia ser encorajar as crianças a refletir sobre as questões profundas da existência, convidá-las a se colocar acima das preocupações tolas da vida cotidiana e pensar sub specie aeternitatis.

A ciência é capaz de fornecer uma visão da vida e do universo que, como já observei, com inspiração poética humilde, supera em muito quaisquer crenças mutuamente contraditórias e as tradições recentes e lamentáveis das religiões do mundo.

Por exemplo, como poderiam as crianças, nas aulas de educação religiosa, deixar de se sentir inspiradas, se pudéssemos fazê-las perceber um átimo da idade do universo?

Vamos supor que, no momento da morte de Cristo, a notícia de sua morte tivesse começado a viajar pelo universo na velocidade máxima possível, distanciando-se da terra. Até onde essa notícia terrível poderia ter chegado, até agora? Segundo a teoria da relatividade especial, a notícia não poderia, sob quaisquer circunstâncias, ter alcançado mais que uma qüinquagésima parte do percurso de uma única galáxia ― sequer a milésima parte do percurso até a galáxia vizinha da nossa, em um universo com 100 milhões de galáxias. O universo de modo geral não poderia ser outra coisa senão indiferente a Cristo, a seu nascimento, à sua paixão e à sua morte. Mesmo momentos muito importantes, como a origem da vida na Terra, poderiam ter viajado somente através de nosso pequeno feixe de galáxias. Mas esse evento é tão remoto em nossa escala de tempo terrena que, se você medisse esse tempo com seus braços abertos, a totalidade da história humana, a totalidade da cultura humana, representariam a poeira da ponta de seus dedos em um único movimento de uma lixa de unha.

É desnecessário dizer que o argumento do arquiteto do universo, parte importante da história da religião, não seria ignorado em minhas aulas de educação religiosa. As crianças olhariam para as maravilhas eloqüentes dos reinos vivos, avaliariam o Darwinismo em contraposição com as alternativas criacionistas e tirariam suas próprias conclusões. Eu penso que as crianças não teriam dificuldade em raciocinar de modo correto se lhes fossem apresentadas provas. O que me preocupa não é a questão do tempo igual para o ensino de ciência e religião, mas que, até onde posso perceber, as crianças do Reino Unido e dos Estados Unidos não tenham basicamente nenhum tempo para o estudo da teoria da evolução. Ao contrário, só lhes ensinam o criacionismo (quer seja na escola, na igreja ou em casa).

Seria interessante também ensinar mais que uma teoria da criação. A dominante nesta cultura é o mito da criação judeu, extraído do mito da criação babilônico. Há, claro, vários outros, e talvez devêssemos conceder a todos eles o mesmo tempo (exceto pelo fato de que não sobraria tempo para estudar nada mais). Sei que há Hindus que acreditam que o mundo foi criado em uma desnatadeira cósmica e povos da Nigéria que acreditam que o mundo foi criado por Deus a partir do excremento de formigas. Certamente estas histórias têm tanto direito a tempo igual quanto o mito Judeu-Cristão de Adão e Eva.

Já falamos demais sobre o Gênesis; agora vamos nos mover para os profetas. O Cometa de Halley retornará sem falha no ano 2062. As profecias Bíblicas ou Délficas não aspiram a esta precisão; astrólogos e seguidores de Nostradamus não ousam se comprometer com prognósticos factuais. Melhor ainda, disfarçam sua charlatanice com uma cortina de fumaça de imprecisão. Quando os cometas apareceram no passado, foram frequentemente vistos como prenúncios de desastres. A Astrologia tem tido um papel importante em várias tradições religiosas, incluindo o Hinduísmo. Supostamente os três reis magos que eu mencionei anteriormente foram conduzidos à manjedoura de Jesus por uma estrela. Nós poderíamos perguntar às crianças por que rota física elas imaginariam que a suposta influência estelar nos assuntos humanos poderia viajar.
Houve um programa chocante na Rádio BBC, no período natalino de 1995, que apresentava uma astrônoma, um bispo e um jornalista designados para refazer os passos dos três reis magos. Pode-se entender a participação do bispo e do jornalista (um escritor religioso), mas a cientista era uma supostamente respeitável escritora de astronomia, e mesmo assim ela seguiu adiante com isso! Durante todo o caminho ela falou sobre os portentos de Saturno e Júpiter em posição ascendente em relação a Urano, ou o que quer que fosse. Ela na verdade não acredita em astrologia, mas um dos problemas é que nossa cultura aprendeu a se tornar tolerante em relação à Astrologia, quando não vagamente entretida por ela ― e tanto é assim que mesmo pessoas do meio científico que não acreditam em astrologia de certa forma pensam que seja uma diversão anódina.

Eu trato a astrologia muito seriamente: penso que é profundamente perniciosa porque solapa a racionalidade, e gostaria de ver campanhas contra ela.

Quando as aulas de educação religiosa se ocupam da ética, não penso que a ciência tenha muito a dizer, e eu a substituiria pela filosofia moral racional. As crianças pensam que há padrões absolutos de certo e errado? E se pensam assim, de onde eles vêm? Você pode criar princípios de certo e errado que funcionem bem, como "faça com os outros o que gostaria que fizessem com você" e "o maior bem para o maior número" (o que quer que isso signifique)? É relevante perguntar como um evolucionista, qualquer que seja sua moralidade pessoal, de onde vem a moral, ou que caminhos levaram o cérebro humano a ter esse sentimento de certo e errado, essa tendência à ética e à moral?

Deveríamos valorizar a vida humana acima de todas as outras? Há uma parede sólida a ser construída em volta da espécie Homo sapiens, ou deveríamos considerar que há outras espécies que merecem nossas simpatias humanistas? Nós deveríamos, por exemplo, seguir o lobby do direito à vida, que está inteiramente voltado para a vida humana, e valorizar mais a vida de um feto humano, que tem as faculdades de um verme, que a de um chipanzé que pensa e sente? Qual é a base desta cerca que erguemos em volta do Homo sapiens ― mesmo em volta de uma pequena peça de tecido fetal? (Não soa muito como uma idéia evolucionária, ao se pensar sobre ela.) Quando, na descendência evolucionária de nosso ancestral comum com os chimpanzés, a cerca de proteção foi erguida?

Bem, saindo então da moral para a escatologia, nós sabemos, pela segunda lei da termodinâmica, que toda complexidade, toda a vida, todo o riso, todo o sofrimento, inclinam-se para o frio nada no final. Eles ― e nós ― podem não ser mais que temporários; apostas locais do grande decline universal no abismo da uniformidade.
Nós sabemos que o universo está se expandindo e que provavelmente vai se expandir eternamente, embora seja possível que se contraia novamente. Nós sabemos que, o que quer que aconteça ao universo, o sol engolfará a terra em cerca de 60 milhões de séculos no futuro.

O tempo propriamente dito começou em um certo momento, e pode terminar em um certo momento ― ou não. O tempo pode chegar ao fim localmente, em trituradores chamados buracos negros. As leis do universo parecem ser verdadeiras para todo o universo. Por que é assim? As leis poderiam ser outras nestes trituradores? Para ser um tanto especulativo, o tempo poderia começar novamente com novas leis da física, novas constantes físicas. Há hipóteses de que poderia haver muitos universos, cada um isolado tão completamente dos demais que, para o primeiro, os outros não existiriam. Neste caso, poderia haver uma seleção Darwinista entre os universos.

A ciência poderia dar uma boa explicação de si mesma na educação religiosa, mas isto não seria o bastante. Eu acredito que alguma familiaridade com a versão do Rei James da Bíblia é importante para quem deseja compreender as alusões que aparecem na Literatura Inglesa. Junto com o Book of Common Prayer, a Bíblia ganhou 58 páginas no Dicionário Oxford de Citações. Somente Shakespeare tem mais. Eu penso que não ter qualquer tipo de educação bíblica é uma escolha infeliz para as crianças que quiserem ler a Literatura Inglesa e entender a procedência de frases como "através de um vidro escuro," "toda a carne é como a relva," "esta corrida não é para o veloz," "chorando no deserto," "colhendo tempestade," "entre o joio," "Sem olhos em Gaza," "Os que consolam Jó," e "a oferta singela da viúva."

Quero ainda retornar à acusação de que a ciência é apenas uma fé. A versão mais extrema desta acusação ― e que vejo com freqüência tanto em cientistas quanto em racionalistas ― é a acusação de haver um fanatismo e uma intolerância tão grandes em cientistas e em religiosos. Às vezes pode haver um pouco de justiça nesta acusação, mas como fanáticos intolerantes nós cientistas somos meros amadores. Nós nos contentamos em discutir com aqueles que discordam de nossos pontos de vista. Nós não os matamos.

Mas eu negaria até mesmo a menor acusação de fanatismo puramente verbal. Há uma diferença muito, muito importante entre o sentimento forte, mesmo apaixonado, em relação a algo porque pensamos a respeito e examinamos as provas e, por outro lado, o sentimento forte em relação a algo que foi internamente revelado a nós, ou internamente revelado a outra pessoa na história e subseqüentemente reverenciado pela tradição. Há uma enorme diferença entre a crença que alguém está preparado para defender recorrendo à evidência e à lógica e uma crença que é apoiada por nada mais que a tradição, a autoridade ou a revelação.

Richard Dawkins é Professor 'Charles Simonyi' de Compreensão Pública da Ciência da Universidade de Oxford. Seus livros incluem The Selfish Gene, The Blind Watchmaker, River Out of Eden, e, mais recentemente, Climbing Mount Improbable. Este artigo foi adaptado de palestra proferida na ocasião do recebimento do prêmio Humanista do Ano de 1996, da Associação Humanista Americana.

Tradução para português do Brasil de Eliana Curado
Universidade Católica de Goiás, Brasil.
Professora de Filosofia Antiga, Filosofia da Arte e Lógica.
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás.

Richard Dawkins, 2002

terça-feira, 19 de outubro de 2010

As raízes mais profundas da vida




Análises de um tipo de fonte termal, descoberta no leito marinho, sugerem novas possibilidades para a evolução da vida

por Alexander S. Bradley

Restam poucos lugares a serem explorados nos continentes da Terra, e é improvável que muitas novas maravilhas naturais sejam reveladas em algum ponto remoto. Mas abaixo da superfície oceânica é outra história. Sabemos mais sobre as características de Marte que sobre os 75% subaquáticos de nosso próprio planeta. Surpresas incríveis nos aguardam ali.

Continue a leitura no site da American Scientific.

"Na Ciência Confiamos"




Sondagem da Nature e Scientific American feita em 18 países, Brasil inclusive, indica que as pessoas acreditam na ciência e nos cientistas.

Uma tomada de opinião feita pela internet com mais de 21 mil leitores de 18 países, inclusive o Brasil, das revistas Nature e das edições americana e internacionais da Scientific American indica que a credibilidade da ciência e dos cientistas é alta. Feita sem qualquer metodologia científica, como ressaltam seus próprios autores, a enquete divulgada em (22/09) mostra que os leitores acreditam mais na palavra dos cientistas do que na de qualquer outro grupo de pessoas.

Numa escala de confiança que variava de zero a cinco, os cientistas receberam a nota média de 3,98, praticamente 4. Em segundo lugar, empatados com a nota 3.09, vieram os grupos de amigos/familiares e as entidades não-governamentais. A seguir apareceram, por ordem decrescente de credibilidade, os grupos de defesa dos cidadãos (2.69), os jornalistas (2.57), as empresas (1.78), os políticos eleitos (1.76) e as autoridades religiosas (1.55). Para realçar a boa avaliação feita do trabalho dos cientistas, a Scientific American usou o título “In Science We Trust“ ("Na Ciência Confiamos") em sua reportagem sobre a enquete.

A confiança dos leitores no que os cientistas dizem oscila significativamente de acordo com o tema em questão. Evolução foi o assunto em que a palavra dos pesquisadores recebeu a melhor avaliação no quesito confiabilidade. Obteve a nota 4.3, novamente numa escala que variava de zero a cinco. Também mereceram notas elevadas as opiniões dos cientistas sobre os seguintes temas: energias renováveis (4.08), origem do universo (4) e células-tronco (3.97). Os assuntos em que os leitores menos confiam nos cientistas foram: pandemia de gripe aviária (3.19), drogas para depressão (3.21) e pesticidas (3.33).

A sondagem também mostrou que 89% dos leitores dizem que investir em ciência básica pode não produzir efeitos econômicos imediatos, mas é uma forma de construir as bases para o crescimento futuro. Para 75% dos entrevistados pela enquete, em nome da preservação das verbas para ciência, os governos deveriam cortar os gastos com o setor de armamentos e defesa nacional.

O maior temor tecnológico dos leitores ainda são as usinas atômicas. Quase metade dos entrevistados acredita que formas mais limpas de energia deveriam substituir a nuclear. O segundo tema que mais preocupa as pessoas são possíveis riscos desconhecidos do emprego da nanotecnologia, uma questão citada por 26% dos entrevistados.

Brasil e diferenças regionais – As revistas Nature e Scientific American sabem que a sondagem online não reflete a visão de toda a população dos países em que ela foi realizada. “Muitos dos resultados batem com a opinião de um grupo de pessoas bem informada sobre ciência”, escreveu a Nature. Afinal, 19% das pessoas que participaram da enquete disseram ter o título de doutor. Foi uma elite, portanto, que respondeu a sondagem. Além disso, a amostra de leitores de cada país é desproporcional ao número de habitantes. Do Brasil, por exemplo, participaram 422 pessoas, cerca de 10% do número de norte-americanos.

Ainda assim, algumas diferenças regionais apareceram. Os europeus são os que mais temem os riscos associados ao uso da energia nuclear e possíveis problemas causados pelo cultivo de organismos geneticamente modificados. Já os americanos são os que menos se inquietam com essas questões. Os chineses são os que mais defendem a ideia de que os cientistas não devem se meter em política (os brasileiros foram a segunda nacionalidade que mais apoiou essa posição).

Refletindo a importância que o país ganhou recentemente no cenário internacional, Nature e Scientific American divulgaram alguns dados específicos sobre as respostas dadas pelos brasileiros. Em geral, os brasileiros ocuparam os lugares intermediários nas comparações entre os países. Não são os mais crentes nos cientistas e na ciência, mas também não são os mais descrentes.

No entanto, chamou atenção a quantidade de brasileiros (23.5%) que ainda têm dúvidas sobre as explicações dadas pela teoria evolutiva baseada no processo de seleção natural. Na China a descrença chega a quase metade dos entrevistados e no Japão a 35%. Mas na Alemanha e no Reino Unido o ceticismo sobre esse tema não alcança 10% e nos Estados Unidos está na casa dos 13%. No que diz respeito a admitir que as atividades humanas contribuem para mudar o clima global, os brasileiros foram tão assertivos quanto americanos, ingleses e britânicos: cerca de 80% concordaram com essa afirmação.

Fonte: Fapesp Online

Do Grafeno ao Nobel em seis anos



A maior láurea científica veio rápido. Em menos de seis anos, os pesquisadores russos de nascimento Andrei Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, Inglaterra, descobriram um material potencialmente revolucionário, com propriedades que emanam do estranho e fascinante mundo da física quântica, e ganharam um Nobel.

Continue a leitura no site da Revista Fapesp.

Site de Biologia e evolução

Convido à todos os interessados a visitarem o site
Biociencia.org. Um excelente trabalho de divulgação científica dos biólogos Rubens Pazza e Karine Frehner Kavalco.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Neandertais e Homo Sapiens




De acordo com um estudo, que mereceu a capa da revista científica Science que circula com a data de amanhã, seres humanos e neandertais mantiveram relacões sexuais, ainda que provavelmente bastante esparsas, entre 50 mil e 100 mil anos atrás no Oriente Médio e talvez na Europa. Para justificar essa afirmação, os cientistas revelaram que os humanos atuais de origem europeia e asiática carregam entre 1% e 4% de DNA nuclear vindo dos neandertais. Já as pessoas da África não apresentam material genético oriundo dos Neandertais.

Fonte: Revista FApesp

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Videoteca da Física

Estive bisbilhotando aqui e ali pela rede, em minhas horas de ócio e, como ex-aluno do Instituto de Física da USP, acabei acessando a página do famigerado IFUSP. Remexendo aqui, mexendo ali encontrei a Videoteca do IF. Para qem possa estranhar, IF significa Instituto de Física...

Achei sensacional essa iniciativa do Instituto de Física e vou deixar aqui, como sugestão, alguns links para vídeos disponibilizados lá no site.

Vamos lá:

- Um panorama da Física: entre o elementar e o complexo.

Esse vídeo mostra uma palestra do Prof. Dr. Antonio Fernando Ribeiro de Toledo Piza, mostrando sua própria visão sobre as Ciências Físicas.

- Física dos anjos e demônios.

Palestra ministrada pelo Prof. Dr. Oscar Éboli em que o assunto discutido é o Large Hadron Collider (LHC) e ele faz uma brincadeira com o título do livro do Don Brown , onde o experimento do CERN é citado.

Entrem lá no site. Existem muitos vídeos disponíveis para download, não somente sobre física, mas sobre muitos outros assuntos de relevância científica.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um breve comentário de Richard Feynman

"... there are many reasons why you might not understand [an explanation of a scientific theory] ... Finally, there is this possibility: after I tell you something, you just can't believe it. You can't accept it. You don't like it. A little screen comes down and you don't listen anymore. I'm going to describe to you how Nature is - and if you don't like it, that's going to get in the way of your understanding it. It's a problem that [scientists] have learned to deal with: They've learned to realize that whether they like a theory or they don't like a theory is not the essential question. Rather, it is whether or not the theory gives predictions that agree with experiment. It is not a question of whether a theory is philosophically delightful, or easy to understand, or perfectly reasonable from the point of view of common sense. [A scientific theory] describes Nature as absurd from the point of view of common sense. And it agrees fully with experiment. So I hope you can accept Nature as She is - absurd.

I'm going to have fun telling you about this absurdity, because I find it delightful. Please don't turn yourself off because you can't believe Nature is so strange. Just hear me all out, and I hope you'll be as delighted as I am when we're through. "

- Richard P. Feynman (1918-1988),
from the introductory lecture on quantum mechanics reproduced in QED: The Strange Theory of Light and Matter (Feynman 1985).

sábado, 3 de abril de 2010

Pesquisa Interessante



"59% dos brasileiros acreditam em Deus e também em Darwin".

Diz uma reportagem da Folha Online.

Notável também foi a falta de percepção dos que fizeram a pesquisa em não dizer que a Teoria da Evolução de Darwin nada diz sobre como surgiu a vida na Terra. Vou salientar esse fato aqui:

"A Teoria da Evolução de Darwin nada diz sobre a origem da vida na Terra!"

E porque estou ressaltando esse fato básico? Simplesmente porque não é preciso ser ateu para aceitar a evolução biológica e o modelo Darwiniano para este fato natural. A Teoria da Evolução só trata de como explicar como as milhares de espécies, que existem (ou existiram) na Terra, surgem (ou surgiram). Nada além disso.

Não existe contradição entre o fato da evolução e da crença em um criador, desde que não se suponha que tal criador tenha interferido nos processos naturais observados cientificamente.

O que não é aceitável é acreditar que fomos criados a menos de 10.000 por um velho de barba branca que não tinha mais o que fazer, ou seja, uma aceitação dos fatos bíblicos ao pé da letra.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Evolução Experimental

Terminei de ler o fantástico livro do Richard Dawkins, O Maior Espetáculo da Terra, onde o autor se propõe a mostrar ao público leigo as evidências científicas para a Teoria da Evolução (TE) (ou, como se denomina hoje, a Teoria Sintética da Evolução).

Dentre as inúmeras evidências, magistralmente mostradas no livro, uma em particular me chamou a atenção pela fantástica demonstração do funcionamento do Método Científico.

Esta se trata do experimento de Richard Lenski (veja o site sobre o experimento aqui). Para entendermos bem do que se trata tal experimento vamos nos lembrar que um dos "argumentos" utilizados pelas pessoas que negam a TE é fato de nunca podermos observar, de fato, o processo evolucionário acontecendo.

Tal argumentação é facilmente rebatida se lembrarmos que qualquer processo evolucionário não acontece da noite para o dia, mas sim ao longo de milhões, ou dezenas de milhões de anos. Portanto seria impossível observamos o surgimento de uma nova espécie no tempo de vida de um ser humano, por exemplo.

Mas e se pudéssemos simular processos evolucionários em Laboratório? É isso o que Experimento de Lenski (Experimental Evolution) faz, de fato. Ele utiliza a bactéria E.Coli para investigar o processo evolucionário ao longo de várias gerações.

Notem que eu digo "ele utiliza" pois o Experimento ainda está em andamento!

Mas como é feito de fato tal experimento? Lembremos que a E.Coli é uma bactéria muito comum, tão comum que você, caro leitor, abriga, neste exato momento, cerca de 1 bilhão delas no seu intestino grosso.

A E.Coli nos é inofensiva e, por vezes, até benéfica. No entanto, ocasionalmente mutações genéticas criam algumas cepas que nos causam problemas sérios.

Para a Evolução as mutações são eventos de sucesso raro, no sentido de que qualquer mutação genética é, em quase totalidade das ocorrências, um evento maléfico para o organismo vivo e é descartado pela processo de Seleção Natural. No entanto, apesar de que somente em raras vezes as mutações acabem por beneficiar o organismo e ser "selecionado" pela Natureza, se a população de tais organismos for muito grande, é possível observarmos tais mutações bem sucedidas com maior frequência.

A E.Coli é extremamente abundante no mundo e foi o "animal" escolhido por Lenski para observar algumas características do processo evolucionário através de várias e várias gerações. A conta, feita no livro do Dawkins, é que, pela vastidão colossal do número de E.Coli's disponíveis, cada gene do genoma da bactéria sofre mutação, em alguma parte do mundo, em todos os dias.

Lenski e seus colaboradores estão explorando essa oportunidade de modo controlado, em laboratório, para analisar como as mutações genéticas atuam no processo da evolução. Só para ficar claro ao leitor o procedimento adotado por Lenski, cito uma parte do texto do Dawkins:

As E.Coli se reproduzem assexuadamente - por divisão celular simples - o que torna fácil clonar uma população enorme de indivíduos geneticamente idênticos em pouco tempo. Em 1988, Lenski usou uma população dese tipo e infectou doze frascos idênticos, todos contendo o mesmo caldo nutritivo, incluindo glicose como fonte vital de alimento. Os doze frascos, cada qual com sua população fundadora de bactérias, foram então postos em uma "incubadora de agitação", onde foram mantidos devidamente aquecidos e eram agitados afim de manter as bactérias bem distribuídas por todo o líquido. Esses doze frascos fundaram doze linhagens de evolução que foram destinadas manterem-se separadas uma das outras por duas décadas, no mínimo.

Todos os detalhes a respeito do experimento pode ser encontrado no site do grupo do Richard Lenski. A moral da história aqui é que o experimento mostra sem sombra de dúvida que o processo evolucionário acontece nos moldes descritos por Charles Darwin, através do processo de adaptação ao meio e de Seleção Natural.

Este é um exemplo claro do Método Científico em andamento. São evidências experimentais incontestáveis em favor da Teoria da Evolução. Não se tratando de discussões de "analogias" ou de discussões de natureza filosófica. O que acontece aqui é um processo simples: o Cientista faz uma pergunta à Natureza e esta o responde de forma simples e direta.

Fica então a minha dica aos leitores sobre a leitura desse fantástico livro do Dawkins e uma pesquisada no Site do Richard Lenski para aprender como se faz Ciência de forma séria e honesta.

Aqui vai mais uma dica: um artigo (em inglês) do próprio Richard Lenski, intitulado Evolution: Fact and Theory (Evolução: Teoria e Fato) onde o autor fala sobre a Teoria da Evolução e suas evidências.

terça-feira, 30 de março de 2010

Você tem medo de tomar vacina?

Ultimamente tenho recebido alguns hoax sobre a vacinação contra o vírus da gripe H1N1. O conteúdo de tais mensagens beiram à insanidade total.

Falam de "illuminati e a nova ordem mundial"; sobre a vacina causar a Síndrome de Guillain-Barre; sobre um complô internacional para reduzir o número de habitantes na Terra; sobre o fato de as doses de vacina conterem uma quantidade letal de mercúrio e muito mais.

Vou tentar discutir estes pontos citados acima (mesmo nao sendo médico ou pesquisador da área), utilizando a arma mais adequada a qualquer cidadão que tenha a mínima capacidade de raciocinar, ou seja, o bom senso.

a) Os Illuminati e a nova ordem mundial

Não percamos tempo aqui. Isso é basicamente uma alucinação causada por muita leitura de romances do escritor Dan Brown.

b) Síndrome de de Guillain-Barre (SGB)

Aqui precisamos discutir seriamente o assunto pois o que aconteceu de fato foi que em 1976, um tipo anterior de vacina contra a gripe suína foi ligado à SGB, em um índice de 1 caso de SGB para 100.000 pessoas vacinadas. Alguns estudos desde então mostraram um pequeno risco de SGB em pessoas vacinadas contra a gripe comum, mas este risco não é superior a 1 caso de SGB em cada milhão de pessoas vacinadas.

Desde 1976, vacinas de gripe não foram claramente ligadas a SBG, que também pode ocorrer em pessoas que nunca receberam uma vacina contra a gripe. Os benefícios de vacinação contra a gripe para prevenir doenças sérias, hospitalização e morte substancialmente excedem estas estimativas de risco para SGB associadas a vacinas. Se você já teve SGB, consulte o seu médico antes de receber a vacina contra gripe.

Resumindo: estatisticamente falando é muito pouco provável que a vacina moderna cause algum caso de SGB.

c) Complô Internacional para a Redução do Número de Habitantes na Terra

Vamos ser razoáveis aqui, meus amigos. Quer dizer então que, em plena era da informação, "organizações diabólicas" (dos EUA, certo?!) estão querendo livrar o nosso mundinho de um monte de gente pobre e "coitadinha", enfiando agulhinhas com doses letais de ... veneno...?

É isso mesmo? Mas os pobres e coitadinhos terceiro-mundistas são obrigados a tomarem vacina? Acho que não. Mas então que complô mais idiota esse?!

Baboseira pura!

d) Quantidade de Mercúrio na Vacina

Segundo as pessoas que estão trabalhando arduamente para impedir este genocídio em massa do planeta, a vacina tem mercúrio e oleo de esqualeno, que são altamente tóxicos.

Mas segundo o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Alexander Roberto Precioso, contudo, “a quantidade de mercúrio que tem nessa vacina é muito pequena e considerada não prejudicial à saúde das pessoas”. A informação foi dada em entrevista ao Jornal Nacional.

Em relação ao esqualeno, o Ministério da Saúde afirma que a substância não faz mal à saúde. “[O esqualeno] é retirado do fígado do tubarão e assemelhados. Trata-se de um supercomplemento alimentar, assim como o óleo de fígado de bacalhau e a emulsão de Scott”, disse o ministério em nota enviada ao G1.

***

Enfim, tomar a vacina contra o vírus H1N1 não é obrigação de ninguém. Cabe a você, leitor, escolher se deve ou não tomar a vacina. A vacina foi desenvolvida de forma séria e correta, nos melhores Laboratórios do mundo e, portanto, tem eficácia comprovada mediante a testes estatísticos apurados.

Quem quiser se informar seriamente a respeito da vacina e da vacinação visite o site do Ministério da Saúde, clicando aqui.

O LHC está funcionando!



Esta terça-feira marca o início de um dos mais fantásticos períodos para a Física de Partículas (e para toda a Ciência). Com a entrada em operação do LHC (Large Hadron Collider) um mundo de possibilidades serão abertas para a pesquisa em Física: desde a possível observação do Bóson de Higgs (a partícula que é responsável por dar massa a todas as outras partículas fundamentais na natureza, no modelo Teórico Padrão das partículas fundamentais), ao possível entendimento da Matéra Escura até a fascinante possibilidade de encontrar aquilo que os Cientistas denominam de Nova Física (basicamente coisas que nem imaginamos existir ainda no Universo).

O empreendimento (que custou mais de 3 bilhões de euros aos cofres públicos da comunidade econômica européia) conseguiu, pela primeira vez nesse dia 30/03/2010, colidir prótons a 7 TeV (Tera eletrons-volt), um recorde na história da Ciência.

Tais colisões vão possibilitar, possivelmente, que a humanidade recrie, em laboratório, as condições da origem do Universo.

Algumas pessoas temiam pela utilização desse super colisor (veja aqui). O fato é que estas colisões de altíssimas energias podem criar mini buracos negros e, como sabemos, buracos negros engolem tudo o que estiver dentro de seu horizonte de eventos. Mas estras pessoas se esqueceram que, mesmo buracos negros, conservam "momento linear", o que impossibilitaria que tais mini buracos negros "engulissem a Terra", pois nosso belo planeta estaria fora do horizonte de eventos, caso tal mini-buraco negro fosse produzido em uma destas colisões do LHC.

De qualquer forma, só o fato de eu poder escrever essa breve mensagem e você estar podendo lê-la tranquilamente, mostra que nosso mundo ainda existe. Mais um belo exemplo do método científico em andamento, ou seja, não precisamos "divagar" a respeito de nada, basta que façamos experimentos para comprovar nossas hipóteses.

Leiam mais aqui, aqui e aqui.

Se quiser acompanhar ao vivo clique aqui.

O conserto do Telescópio Hubble

A notícia não é nova mas olhando as imagens, que são de tirar o fôlego, é impossível não nos emocionarmos com as possibilidades que a Ciência e o Método Científico possibilitam à Humanidade.

As fotos são do New York Times, maravilhe-se AQUI!

segunda-feira, 29 de março de 2010

O LHC vai colidir partículas a partir de amanhã!

Para aqueles que não conhecem, o LHC é o maior laboratório de física de partículas do mundo. O que ocorre nesse laboratório é que feixes de partículas executam movimentos circulares em sentido contrário e se chocam em algum ponto do anel que compõe o laboratório. Quando estas partículas se chocam, toda a energia da colisão possibilita a criação de um enorme número de outras partículas. Quanto maior a energia dos feixes maior a possibilidade de criação de partículas cada vez mais exóticas.

Veja aqui o site do LHC. E leia esta notícia sobre o evento.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre o Ensino Universitário Privado no Brasil

Há muito tempo sinto a necessidade de divagar um pouco a respeito da educação superior em nosso País. Como Professor, venho me deparando com inúmeros problemas enfrentados pelos diversos profissionais envolvidos com esta esfera de conhecimento. Desde a pouca qualificação dos alunos até a forma como é tratado o Corpo Docente, principalmente em Instituições de Ensino Superior Particulares.

Nosso modelo de Ensino Superior é híbrido, ou seja, possuímos um conjunto de Universidades públicas (as melhores e mais qualificadas) junto de um conjunto formado por Universidades, Faculdades e Centros Universitários privados. Não tenho nada a reclamar deste tipo de modelo, mesmo porque entendo perfeitamente que o poder Público não possua verbas necessárias para oferecer educação superior gratuita de qualidade a 100% da nossa população apta a freqüentar tais cursos.

O problema que enfrentamos atualmente é a “baixíssima” qualidade dos cursos universitários oferecidos pela grande maioria das Instituições particulares (claro, existem exceções que analisarei em um próximo artigo sobre o tema).

O que ocorre com o aluno brasileiro (fato conhecido pela imensa maioria de nossa população) é que os melhores cursos universitários, os cursos Públicos, são freqüentados pela parcela mais abastada de nossa população. Os “mais ricos” podem oferecer cursos de ensino fundamental e ensino médio de nível mais alto o que permite que os felizardos, da classe mais rica de nossa população, tenham mais capacidade de enfrentar o gargalo dos vestibulares das Universidades Públicas mais qualificadas.

O que resta ao resto? O "resto" a que me refiro, é o restante da população brasileira, que merece uma educação de base digna mas que não a recebe por incompetência dos orgão responsáveis. À este enorme (e potencialmente fundamental) contigente de estudantes resta as vagas nas diversas opções de Universidades, Faculdades e Centros Universitários (por que será que existem “Centros Universitários”?) particulares, espalhados por todo o nosso imenso País.

Sou um Profissional atuante nesse meio Universitário particular e posso, com conhecimento, enumerar os diversos problemas que enfrento no dia a dia e na experiência com meus alunos (diga-se de passagem, os menos culpados por tais problemas).

O Professor que atua na iniciativa privada não tem as mesmas liberdades (com raras exceções) que o Professor da rede pública (sempre me reportando ao ensino superior). O aluno, na iniciativa privada, é visto como um cliente (novamente alerto o leitor de que esse comportamento não é da totalidade das Faculdades e Universidades Particulares. Existem honrosas e claras exceções.) e é tratado com tal. Ou seja, o Professor da iniciativa privada tem que pensar mil vezes antes de reprovar qualquer aluno em sua disciplina, pois tal reprovação pode ter conseqüências sérias para a carreira do Profissional.

Tome como exemplos disciplinas como Cálculo Diferencial e Integral ou Física. Pela baixíssima qualidade do ensino fundamental e do ensino médio públicos, os alunos, formados em tais cursos, chegam aos cursos de Exatas sem um mínimo conhecimento de Matemática que os possibilite acompanhar as disciplinas mencionadas acima, de forma aceitável. E, obviamente, tais alunos não têm culpa por esta situação.

Um Professor ministrando tais disciplinas com critério e qualidade reprovará mais de 90% em uma grande maioria das Universidades, Faculdades ou Centros Universitários. Mas o professor não pode reprovar! As “coordenações” destes diversos cursos (principalmente de Exatas e Biológicas) já deixam subrepticiamente claro que deve-se manter, a todo o custo, o aluno em sala de aula e não permitir que os alunos desistam dos cursos (lembrem-se que existem exceções importantes à esta regra).

Pela minha experiência sei que o aluno desiste de um determinado curso quando não tem sucesso em algumas disciplinas, se o insucesso for seqüencial. O que, digamos, é uma posição perfeitamente aceitável, dado que o aluno está pagando pelo conhecimento e está percebendo que não irá conseguir chegar ao fim do curso por não possuir o conhecimento necessário para acompanhar o conteúdo ministrado.

E o que acontece ao Professor que, sabendo de sua responsabilidade social, não aprova o aluno que não tem condições de seguir o curso? Sim, isso mesmo que você está pensando. Dependendo do número de reprovações e dependendo da opinião do aluno a respeito do Professor, este pode ser sumariamente demitido de suas funções, mesmo que as tenha executado com a maior competência possível.

A minha conclusão até aqui é que não é possível ao Profissional de Ensino Superior da iniciativa privada exercer a sua profissão com competência, rigor e honestidade, se tal Profissional lecionar em certas Instituições, onde tal procedimento é comum. O Professor da iniciativa privada precisa ter “jogo de cintura” e “dançar conforme” a música tocada pela Instituição onde leciona (não se esqueçam que existem exceções, ou seja, existem Instituições Particulares que permitem que o Professor exerça o seu poder educativo. Eu mesmo atuo em uma destas Instituições).

Qual seria solução para este problema particular? Mencionei acima que o Poder Público não tem condições de oferecer 100% de ensino universitário gratuito de qualidade, mas este Poder Público tem “totais condições” de fiscalizar!

O Poder Público precisa entender que a Educação exerce um papel chave (fundamental) para o desenvolvimento auto-sustentável do nosso País. Não adianta o Lula aparecer na televisão dizendo que tudo está perfeito, que o seu governo é o melhor governo da história do universo, que a Dilma, além de ser eleita Presidente, também irá ganhar o concurso de miss-universo, etc, etc.

O nosso Governo (qualquer que seja ele) precisa entender, de uma vez por todas, que Educação é prioridade básica e é um conceito chave para o nosso desenvolvimento e para o papel que o Brasil irá desempenhar no mundo em um futuro próximo. Por enquanto somos coadjuvantes, nada mais do que isso. Não tem propaganda governamental que consiga encobrir os problemas gravíssimos que assolam a Educação no nosso País.

Voltando ao tema. O Poder Público precisa fiscalizar! O que quer dizer isso? Quer dizer que o Ministério da Educação e Cultura precisa “cair de pau” em cima das Instituições de Ensino Superior que exijam aprovação de alunos não capacitados.

Criou-se o ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) para testar o desempenho dos estudantes e, por conseqüência, das Instituições de Ensino. No entanto o que observamos agora é que as Universidades (e o resto) particulares se transformaram em “cursinhos de terceiro grau”, ou seja, tais Instituições não estão mais preocupadas em formar o aluno para o mercado de trabalho ou para a pesquisa científica; agora estes alunos estão sendo treinados para fazer a prova do ENADE!

O que observo é outra distorção gravíssima em nosso ensino superior. Não que o ENADE não seja necessário. É! Mas não se pode permitir que existam estes “cursinhos” superiores. É preciso que nosso Ministério da Educação fiscalize as escolas. É preciso o ENADE e mais algum outro mecanismo que corrija esta distorção.

Outro grave problema observado nas Instituições particulares é a própria composição do corpo docente destas. Muitos Profissionais tratam estas “aulas” em Universidades (e o resto) particulares como simples complemento de sua renda principal, que geralmente é a renda da atividade que o Profissional considera mais importante (um emprego em alguma empresa, por exemplo).

Outro dia, conversando com um Profissional de outra área – cara qualificado, competente no que faz – informei que era Professor Universitário ao que me foi respondido com um certo ar de desprezo: - É... eu também tô pensando em pegar umas “aulinhas” pra ganhar um troquinho extra...

Não respondi. Mas pensei muito no assunto. É dessa forma que o resto da sociedade Brasileira vê a nossa Profissão, ou seja, UM BICO. Um simples bico para “tirar um troquinho”. É culpa da sociedade? Claro que é!

A sociedade é que elege os seus governantes. Se os governantes não dão atenção à Educação isso nos informa que esse assunto não é importante também para a nossa sociedade. Afinal, quem colocou estes caras lá em Brasília?

O Ministério da Educação precisa fiscalizar. Precisa exigir que as “Privadas” criem planos de carreira para os Profissionais da Educação superior. Precisa exigir que tais Profissionais sejam qualificados. Que possuam Doutorado. Isso mesmo! Professor Universitário tem que ser Doutor em sua área. Precisa conhecer profundamente sobre o conteúdo de sua disciplina. Mas precisa saber que será bem recompensado pelos seus esforços.

Este é um artigo breve e “coloquial”. Só para mostrar a “ponta do Iceberg” do descalabro que se tornou o Ensino Superior Privado em nosso País. Acredito que o setor privado possa fazer a diferença para a evolução educacional no nosso País. Mas correções precisam ser feitas. A mentalidade dos Proprietários de Universidades precisa mudar. Estes precisam entender o papel fundamental que terão no desenvolvimento do Brasil.

Não será possível que todas as soluções para os nossos problemas educacionais venha do Setor Público. Acredito que o Setor Privado possua todas as condições de assumir esse papel no desenvolvimento de uma educação superior de nível e que possibilite a formação de mão de obra qualificada. Mão de obra essa que colocará o Brasil no primeiro plano do cenário mundial.

A Segunda Lei da Termodinâmica.

Em muitas discussões sobre a Teoria da Evolução surgem comentários de que tal Teoria Científica (lembrem-se do significado de Teoria Científica) viola a Segunda Lei da Termodinâmica.

Só para recordar, a Teoria da Evolução é um bem acabado conjunto de hipóteses, originalmente propostas por Charles Darwin e continuamente aprimoradas por Cientistas de grande competência nos últimos 150 anos, que explica, sem margem para dúvidas, como as milhares de espécies que populam (ou já popularam) o nosso planeta surgem (ou surgiram) através de um processo denominado "Seleção Natural" (recado aos biólogos: não tenho intenção de ser rigoroso com a definição sobre a Teoria da Evolução. Caso eu esteja sendo muito impreciso, vocês têm toda a liberdade de me corrigirem).

Denominamos a Teoria da Evolução como uma "Teoria Científica" pois tal Teoria nunca foi contestada experimentalmente (de forma intelectualmente honesta) e, sendo assim, é confirmada por "toneladas" de evidências (evidências fósseis, da biologia molecular, etc. Para os curiosos: veja aqui!).

No entanto alguns "grupos organizados" tentam desmerecer o trabalho do Charles Darwin (e de toda a geração posterior de cientistas sérios) tentando mostrar que a Teoria da Evolução está errada. Um dos "argumentos" utilizados por estes grupos diz que a Teoria da Evolução viola a Segunda Lei da Termodinâmica. Por isso irei explicar de forma simplificada, nesse artigo, o que é a Segunda Lei da Termodinâmca e deixarei aos leitores intelectualmente honestos e bem informados as conclusões sobre se a Teoria da Evolução viola ou não esta Segunda Lei da Termodinâmica.


A própria definição do que é "Termodinâmica" já é confusa. Mas podemos afirmar, sem medo de errar, que a Termodinâmica é a ciência que estuda a "energia, suas formas e transformações e as interações entre energia e matéria tratando das leis sob as quais ocorrem transformações e tranferências de energia em que participam energia interna e calor".

Existem três leis fundamentais na Termodinâmica:

a) A lei Zero: que nos informa sobre a existência de uma grandeza (escalar), denominada "temperatura", que é uma propriedade de todos os sistemas termodinâmicos em estado de equilíbrio, tal que a igualdade de temperatura seja uma condição necessária e suficiente para o equilíbrio térmico;

b) Primeira Lei da Termodinâmica: esta lei nos informa sobre a existência de uma variável de estado chamada "energia interna" que um determinado sistema possui. Esta energia interna é a diferença entre o calor e o trabalho efetuado sobre este sistema. Basicamente a primeira lei nos afirma que a energia desse sistema é conservada quando analisada somente entre estados de equilíbrio.

E existe a famigerada "Segunda Lei da Termodinâmica", que iremos discutir daqui em diante.

A primeira lei da termodinâmica afirma essencialmente que a energia é conservada. No entanto, podemos imaginar uma série de processos (ou transformações) que não violam a primeira lei, mas que são impossíveis de ocorrer (ou pelo menos nunca foram observados) naturalmente.

Por exemplo: se colocarmos um corpo quente A em contato com um corpo frio B não acontecerá de o primeiro ficar "mais" quente e o segundo "mais" frio, pela troca de calor entre eles. O que ocorre é que o corpo mais quente cede calor ao corpo mais frio até que eles estejam em equilíbrio témico.

Outro exemplo: imagine um lago em um dia quente. Você nunca irá obervar o lago ceder todo o seu calor para o ambiente, ficando congelado. Naturalmente esse processo não ocorre.

Entretando nenhum dos processos acima viola a primeira lei. A energia destes sistemas continuaria se conservando.

A Segunda Lei da Termodinâmica trata exatamente desse problema, ou seja, ela trata da questão de saber se transformações, supostamente consistentes com a primeira lei, ocorrem ou não na natureza.

Um enunciado da Segunda Lei, devido Lord Kelvin e Max Planck nos diz que "uma transformação cujo único resultado final seja transformar em trabalho o calor extraído de uma fonte que esteja à mesma temperatura é impossível.

Esta segunda lei, portanto, nos ensina que muitos processos que podem ser possíveis, no sentido de não violar a primeira lei da termodinâmica, são, na verdade, irreversíveis.

Uma outra forma de enunciar a Segunda Lei da Termodinâmica é utilizar o conceito de Entropia. Mas o que vem a ser Entropia?

Considere um sistema em duas condições diferentes, por exemplo 1kg de gelo a 0ºC, que derrete e torna-se em 1kg de água a 0ºC. Associamos a cada condição uma quantidade chamada de entropia. A entropia de uma substância é uma função da condição da substância. Para um gás ideal ela é uma função de sua temperatura e volume, e para um sólido e líquido ela é função de sua temperatura e estrutura interna. A entropia é independente da história passada da substância. A entropia de 1kg de água a 0ºC é a mesma daquela obtida do gelo derretido, ou se esfriarmos a água da temperatura ambiente para 0ºC.

Dizer que a entropia total de um sistema fechado sempre aumenta é uma outra maneira de expressar a segunda lei da termodinâmica. Um sistema fechado é um sistema que não interage com o ambiente externo. Na prática não existe sistemas fechados, exceto talvez, pelo universo como um todo. Logo, podemos expressar a segunda lei como: a entropia total do universo está sempre aumentando.

Em resumo podemos concluir que existem processos irreversíveis na natureza, que conservam a energia, mas que não ocorrem naturalmente porque violam o conceito de entropia para sistemas fechados. Ou seja, tais processos poderiam fazer com a entropia em um sistema fechado pudesse diminuir, caso não fossem irreversíveis. Poderíamos ver um lago congelar em pleno verão ou um corpo frio em contato com um corpo mais quente, ficar mais frio, enquanto que o corpo mais quente ficaria ainda mais quente!

Sim, é só isso.

Os "grupos organizados" afirmam que a Teoria da Evolução viola a Segunda Lei da Termodinâmica. Talvez eles precisem entender melhor do que trata a Segunda Lei. Uma boa discussão sobre o tema pode ser encontrado aqui.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O que é Ciência?

Afinal de contas o que é Ciência?

Gostaria de fazer uma pesquisa entre a população brasileira para saber a porção de nossa população que sabe responder à esta pergunta. Fica aqui uma primeira sugestão às pessoas do Ministério da Ciência e Tecnologia pois, afinal de contas, dinheiro público é gasto com o tema e seria interessante que o povo brasileiro soubesse o destino final do seu suado dinheirinho.

Apesar da sugestão, o intuito destes artigo não é o de discutir as políticas públicas do Governo Brasileiro, mas sim o de informar ao leigo o que vem a ser Ciência.

Pela definição do Dicionário Aurélio, temos:
s.f. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos. (Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real, seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica: ciências físicas e naturais.) / Conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade e do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que regem os fenômenos e sua explicação: o progresso da ciência. // Ciência pura, ciência praticada independentemente de qualquer preocupação de aplicação técnica. // Ciência política, politicologia.

A meu ver tal definição não é completa (não estou dizendo que é errada) por dar margem à uma série de conclusões possíveis a respeito do que vem a ser Ciência. Falar sobre Ciência sem mencionar o Método Científico desqualifica o significado da palavra.

Ciência para mim é o "conjunto organizado do conhecimento baseado em fatos observáveis e possíveis de serem falseados por experimentos".

Sim! A Ciência a que me refiro aqui é a Ciência experimental, não à todas as possibilidades (filosofia, por exemplo) a que se refere o texto do Dicionário Aurélio. Para mim a Ciência real é aquela que vai ao Laboratório. Que testa as hipóteses teóricas, as confirmando ou as refutando.

Uma determinada teoria científica deve passar pelo crivo da experiência para ser admitida como uma realidade da natureza. Sem o experimento que confirme a hipótese, não existe Ciência. Ponto final.

Claro que existem N maneiras de discutir o mundo, mas só existe uma forma de discutir a natureza de forma científica: submetendo a idéia ao experimento.

Dessa maneira, amigo leitor, quando você ouvir falar sobre alguma coisa "científica" você deve ter em mente que:

a) Alguém pensou muito no assunto, criando uma hipótese a respeito do tema estudado;

b) Tal hipótese foi exaustivamente testada experimentalmente em vários laboratórios ao redor do mundo;

c) "Todos" estes labaratórios confirmaram as predições teóricas, dentro da margem de erro aceita (1% pelo menos).

Agora sim! A hipótese virou "Teoria Científica" que nada tem ver com o significado "mundano" da palavra "teoria". Para a Ciência, uma "Teoria Científica" é um bem acabado e exaustivamente testado conjundo de hipóteses que explicam uma ampla gama de fenômenos naturais.

Notem aqui um detalhe interessante nessa frase: "EXAUSTIVAMENTE TESTADO". Aqui é a experiência que define a realidade da hipótese e não a vontade da pessoa que constrói a teoria. Se a hipótese (ou hipóteses), que tentam explicar um determinado fenômeno natural, for contestada EXPERIMENTALMENTE a teoria deixa de valer, ou passa a ser considerada uma simples aproximação da realidade natural.

Um exemplo muito simples de hipótese sobre o mundo natural que não passou pelo crivo da experiência foi a hipótese do "calórico". O que era o calórico? A teoria calórica supunha a existência de um fluído invisível e inodoro, o calórico, que todos os corpos deveriam possuir e que causava as alterações de temperatura observadas. Hoje sabemos claramente que temperatura nada mais é do que o grau de agitação médio das moléculas que compõe um sistema. Não existe o "calórico". A experiência refutou a hipótese do "calórico".

Um exemplo mais sútil de hipótese a respeito do mundo natural, que deve ser considerada como uma simples aproximação do comportamento da natureza, é a Teoria da Gravitação Universal Newtoniana, que afirma que a força gravitacional entre corpos de massas conhecidas é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre estes corpos (quanto maior a distância entre os corpos menor, quadraticamente, será a força gravitacional entre eles) e diretamente proporcional ao produto destas massas.

A Teoria (com T maiúsculo) Newtoniana da Gravitação foi (e é!) bem sucedida em explicar uma ampla gama de fenômenos naturais observados, desde o movimento da Lua, o movimento das marés, de satélites, de cometas, de planetas e muitos outros. No entanto uma observação em especial fez com que tal Teoria fosse reformulada.

A Teoria Newtoniana explicou de forma categórica o movimento dos planetas ao redor do Sol, sendo possível, inclusive, deduzir as três leis de Kepler a partir desta. No entanto o planeta Mercúrio apresentou um comportamento problemático pois o seu periélio (o ponto mais próximo da órbita do planeta em relação ao Sol) apresentava um movimento de precessão muito maior do que o observado pelos outros planetas.

A explicação física do fenômeno era simples: por estar mais próximo ao Sol, tal movimento de precessão era mais acentuado do que o dos outros planetas. O problema real era o de calcular corretamente o valor dessa precessão utilizando a Teoria da Gravitação disponível, ou seja, a Teoria de Newton.

A Teoria Newtoniana ainda fornecia resultados muito precisos a respeito do fenômeno, ou seja, segundo esta Teoria:

- a órbita descrita por Mercúrio ao redor do Sol era uma órbita elíptica (fato observado experimentalmente);

- o periélio, segundo a mesma Teoria, deveria avançar 5700 segundos de arco por século (quase lá).

No entanto o observado em tal avanço do períélio era de 5743 segundos de arco. Uma discrepância de 43 segundos de arco por século que a Teoria Newtoniana não consegui explicar.

Foi preciso uma nova Teoria da Gravidade para que tal discrepância fosse eliminada, e esta foi a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, que afirma que as leis da Física deverm ser as mesmas para quaisquer tipo de referenciais, inerciais ou não.

Um fato interessante é que a Teoria Newtoniana pode ser obtida, matematicamente, da Teoria da Relatividade Geral Einsteineana desde que façamos algumas aproximações matemáticas.

Citei estes dois exemplos para mostrar o que é uma Teoria Científica (Relativiadade Geral), o que é uma Teoria aproximada (Gravitação Newtoniana) e o que é uma simples bobagem (calórico).

No entanto esta hierarquia não é fixa. A não ser pelas simples "bobagens" (que descartamos imediatamente) pode-se sempre observar algum fenômeno que alguma teoria não explique com toda a precisão estatística necessária.

Poderíamos, por exemplo, observar algum evento natural que não fosse explicado detalhadamente pela Teoria Geral de Einstein (na verdade isso acontece, mas não vamos entrar em detalhes para não fugirmos do assunto principal) e seria necessário, então, uma Teoria mais completa.

É nesse ponto que reside a beleza do método científico. A Ciência é "auto-limpante"! Ou seja, ela se corrige ao longo do tempo. A Ciência não é um conjunto hermeticamente fechado de conhecimentos, isso é dogma e dogma não serve.

Por isso não devemos nos surpreender quando vemos fatos naturais novos contestando ideías científicas. Isso é absolutamente natural e deve ser assim mesmo.

Ciência é "idéia+experiência".

Só idéia não basta.